Argentinos reclamam da falta de produtos
"Não está entrando nada. Se eu depender desse esquema de importação, vou falir", diz o comerciante de toalhas da avenida Santa Fé, em Buenos Aires. Para abastecer a loja, o empresário, que não quis se identificar, disse que foi ao Brasil e trouxe um carregamento em seu próprio carro.
Na loja de artigos esportivos Speedo, na mesma avenida, faltam reposições de itens como óculos de natação e raquetes de tênis. "Em todas as áreas falta algo, mas os importadores têm medo de represálias e não falam disso abertamente", diz o porta-voz da Câmara de Importadores da Argentina, Miguel Ponce.
A área mais afetada é a indústria, que depende de componentes importados-mais de 80% das compras argentinas vêm daí. Mas há reclamações dos setores gastronômico, têxtil, cosmético, editorial e médico, entre outros. Faltam desde saquê e wasabi nos restaurantes japoneses até medicamentos de alto custo, contra câncer e Aids.
Segundo a Câmara de Importadores, a liberação dos produtos -acumulados desde antes da entrada de vigor das travas à importação, em fevereiro- está demorando ainda mais para ocorrer.
O governo justifica a medida dizendo que quer equilibrar a balança comercial, evitar a fuga de dólares e incentivar a indústria nacional.
Os números oficiais mostram um cenário menos terrível que o pintado por importadores. Na semana passada, a Aduana divulgou que 7 de cada 10 produtos importados tiveram a entrada aprovada no país desde as medidas.
Em fevereiro, ficou determinado que, para entrar na Argentina, um produto precisa da aprovação por parte da Secretaria de Comércio Interior, comandada por Guillermo Moreno (leia ao lado). O processo de autorização se dá por meio da avaliação de uma declaração jurada apresentada pelo importador. O trâmite demora até 15 dias.
"O que mais preocupa é que faltam insumos para a indústria. A indústria argentina é muito aberta e o produto importado representa até 50% dos itens", diz à Folha o ex-secretário de relações econômicas Jorge Campbell.
A falta de peças tem causado suspensão ou queda da produção em algumas indústrias, como a Fiat Argentina.
As compras argentinas de produtos brasileiros caíram 18,8% desde a implementação das travas. As tentativas do governo de equilibrar a balança com o principal parceiro do Mercosul tiveram efeito: houve uma queda de 73% do superavit brasileiro, com relação ao ano passado, segundo a consultora Abeceb.
PREJUÍZO
Para o presidente do conselho superior de comércio exterior da Fiesp, Rubens Barbosa, as novas normas, "ao desabastecer a indústria argentina, estão causando dano ao seu próprio mercado". Ele acrescenta que, se fosse para auxiliar a Argentina a evitar uma crise cambial, não veria problemas.
"A questão é que há relatos de que estão brecando o Brasil para favorecer outros, como a China e os EUA."
FONTE: Folha de S. Paulo.
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