Lei do Descanso gera impacto na produção industrial
Aprovada em junho, a nova “Lei do Descanso” (Lei 12.619), que regulamenta jornada de trabalho de motoristas profissionais, define que caminhoneiros façam pausa de trinta minutos a cada quatro horas de direção. Além disso, a lei determina também que a cada dia de trabalho, o motorista descanse por 11 horas. Para as empresas que utilizam o serviço, o novo decreto terá custos. Por conta da queda da produtividade, redução no número de viagens, aumento da frota de veículos, entre outros fatores, estima-se que a redução na quilometragem rodada por mês provocará aumento de 56% no prazo de entrega dos produtos e de até 35% no valor do frete.
Entretanto, em função da falta de pontos de parada em grande parte das estradas brasileiras, a lei ainda não multa infratores e começará a ser fiscalizada no início de 2013. De acordo com o presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro, Nélio Botelho, para que os caminhoneiros pudessem obedecer à “Lei do Descanso”, as rodovias brasileiras deveriam ser reestruturadas. “Por enquanto, é impossível cumprir a lei. As estradas do País são muito precárias para essas exigências”, analisa o presidente.
Segundo Botelho, em outros países da América do Sul vigoram leis semelhantes e nos Estados Unidos, que têm extensão territorial mais próxima à do Brasil, a lei exige pausa a casa oito horas de trabalho. “É difícil comparar o transporte de carga brasileiro com o de outros países. Isso porque nós somos muito mais dependentes das rodovias, já que não houve investimento representativo em outros meios, especialmente na malha ferroviária”, afirma Botelho. Mantendo-se a quantidade da frota de caminhões que existe hoje, o custo da operação aumentaria quase 30%, já que a jornada de trabalho do caminhoneiro fica reduzida em oito horas diárias.
Para o supervisor de logística da fabricante de denim Vicunha, Adalberto Júnior, a nova lei terá impacto principalmente no prazo da entrega da produção, que é trazida do Ceará para São Paulo, principal região de vendas da empresa. “Hoje, levamos em média cinco dias para entregar um produto para a região sudeste, com a nova lei, estimamos que esse período suba para dez dias”, analisa Adalberto, “e algumas transportadoras já estão nos repassando o custo dessa defasagem, que trará um aumento de pelo menos 20% no preço das viagens”, completa.
Para adequar-se à “Lei do Descanso”, Júnior considera o revezamento de dois motoristas em cada caminhão nas viagens mais longas. “Ainda não temos certeza de como será a fiscalização e por enquanto estamos estudando uma nova logística de transporte. Os cálculos serão feitos no início do próximo ano, quando a lei entra em vigor definitivamente”, considera. O diretor de negócios da indústria química Tremembé, Mario Galardo, afirma que, com a redução de quatro a cinco viagens por mês, será necessário aumentar o número de caminhões para entrega. “A Tremembé transporta cerca de 500 toneladas de produto por mês e teremos que renegociar com nossas transportadoras terceirizadas para manter esse número”, observa Galardo.
Para os transportadores de carga, a pressão para o cumprimento das novas regras já gera mudanças na logística dos caminhões. O diretor Toni Trajano, da transportadora Raupp Transportes, especializada em gestão da cadeia têxtil, afirma que o aumento de custos da operação refletirá na negociação com as empresas contratantes. “De qualquer maneira haverá queda de produtividade e aumento no custo da operação”, ressalta Trajano, “o que a transportadora ainda analisa é de que maneira essa queda será compensada”, observa o diretor da Raupp, responsável pelo transporte de cinco milhões de peças têxteis por mês em diversas regiões do Brasil. De acordo com o diretor, as transportadoras ainda estão pesquisando novas estratégias para aperfeiçoar o transporte. “Ainda estamos analisando os custos do aumento do rodízio de profissionais nos caminhões e os do aumento da frota”, conta.
Segundo o Ministério do Transporte, até 2013 serão investidos mais de 130 bilhões de reais na segurança e expansão de rodovias que, hoje, têm registrados mais de 640 mil transportadores de carga. Além disso, o Ministério planeja ainda a integração dos sistemas de transporte, a fim de diminuir as tarifas e resgatar as ferrovias como meio alternativo. De acordo com análise Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), os impactos da legislação sobre os custos podem ser minimizados com a reorganização de processos logísticos, como, por exemplo: redução no tempo de carga e descarga do cliente, diminuição das restrições à circulação nos centros urbanos, aproveitamento máximo da capacidade de carga dos veículos e agilidade na liberação de caminhões nos postos fiscais em fronteiras. A reorganização do sistema de transporte, segundo a NTC&Logística, só será possível por meio de parcerias entre transportadores, embarcadores e governo.
FONTE: ABIT
Comentários
Postar um comentário